Não é segredo que a revolução digital impactou muito nossas vidas pessoais e profissionais, e essa tendência não irá enfraquecer tão cedo. A chegada do 5G, os avanços na inteligência artificial e a expansão de plataformas digitais são apenas o começo desse crescimento exponencial que irá redefinir os modelos de negócios.
Em um mundo que evolui como nunca vimos antes, como alguém pode tomar as rédeas, fazer mudanças acontecerem e ter sucesso? Os seres humanos possuem a incrível capacidade de pensar criticamente, o que nos permite olhar e analisar as coisas objetivamente.
O ceticismo também ajuda um pouco. Graças ao pensamento crítico, nos recusamos a aceitar as coisas de primeira, e examinamos e verificamos tudo antes de declarar que é verdade. Isso nos ajuda a ir além das primeiras impressões de qualquer sujeito, para tentar formar julgamentos racionais e imparciais.
O pensamento crítico na perspectiva de Tom Chatfield
Tom Chatfield é um autor e filósofo britânico especializado em novas tecnologias. Seus trabalhos mais famosos, como Pensamento crítico e Live This Book! foram traduzidos em mais de trinta idiomas. Professor em Oxford, ele também trabalha como consultor para grandes empresas de tecnologia. Ele tem a forte convicção de que a chave para o sucesso no século 21 depende de habilidades de pensamento crítico bem desenvolvidas.
O que é o pensamento crítico e quando podemos fazer uso dele?
O que significa pensamento crítico no contexto de negócios? Acima de tudo, significa não tomar as coisas como certezas.
- Pensar criticamente é fazer uma pausa e pensar duas vezes;
- É reavaliar as suposições que fazemos rápida e implicitamente;
- Apresentar argumentos fundamentados para o que você acha que está acontecendo;
- Estar preparado para mudar de ideia à luz de novos conhecimentos.
Talvez, acima de tudo, no momento atual de transformações tecnológicas, seja sobre tornar-se um usuário criticamente engajado dos sistemas de informação – e um colaborador e comunicador que entenda os potenciais e as vulnerabilidades da inteligência humana na era digital.
Para que serve o pensamento crítico?
De acordo com Tom Chatfield, o sucesso na era digital pode se resumir ao pensamento crítico. Isto é por duas razões:
1. O pensamento crítico nos distingue das máquinas
As ferramentas tecnológicas estão se tornando cada vez mais poderosas e já nos superaram em diversos aspectos. Com a capacidade de pensar criticamente, no entanto, possuímos algo que elas nunca terão. Nós dominamos as máquinas graças ao nosso pensamento crítico.
2. Permite escolher as informações relevantes
Essas habilidades também são importantes porque nos permitem filtrar e escolher as informações relevantes dentro do grande fluxo de estímulos que recebemos. Máquinas nos afogam em dados, mas cabe a nós analisar, avaliar e julgar sua pertinência. O pensamento crítico, portanto, nos ajuda a não ser manipulados.
Como estimular o pensamento crítico?
Segundo Tom Chatfield, o pensamento crítico pode ser desenvolvido. O especialista identificou alguns bons hábitos e dicas fáceis de implementar.
Fazer a gestão do tempo
A gestão do tempo é crucial, devido ao ritmo no qual a sociedade está se digitalizando, pois nos ajuda a:
- Manter nossas habilidades analíticas e controlar o nosso próprio ambiente, mesmo diante das várias distrações digitais que fazem parte do nosso dia a dia;
- Parar de tentar ser multitarefa. Esse comportamento se tornou comum quando começamos a lidar com múltiplas telas.
Estamos constantemente pulando de um aplicativo para outro. No trabalho, também tendemos a gerenciar muitas tarefas ao mesmo tempo. Por causa disso, perdemos nossa capacidade de sermos eficientes e precisos. Concentrar-se em uma tarefa de cada vez nos liberta da tirania das novas tecnologias.
Examinar as convicções
Tom Chatfield vai ainda mais longe e se baseia na filosofia. Desde os tempos antigos, os filósofos ponderam como a mente humana pode entender a verdade. Eles criaram ferramentas e métodos que revelam ser altamente úteis no mundo digital de hoje.
Tom Chatfield recomenda, por exemplo:
- Que tenhamos cuidado com nossos preconceitos inconscientes. Tendemos a acreditar em nossa visão da realidade, embora isso geralmente seja muito mais profundo e mais complicado do que podemos pensar. Preste atenção às crenças profundamente arraigadas!
- Que examinemos nossas convicções de vários ângulos para entender completamente o que é verdade. A melhor maneira de fazer isso é refutar nossas crenças, em vez de defendê-las. Não se concentre no que parece ser verdade, mas no que não pode ser provado falso.
- Que percebamos as ideias preconcebidas no nosso raciocínio. Que noções estão ocultas em nossa sequência lógica de pensamento? Se rejeitarmos ideias particulares por serem falsas, perceberemos que nosso raciocínio também é (ou era, melhor dizendo).
Na coleção de vídeos que produziu exclusivamente para a CrossKnowledge, Tom Chatfield explora como podemos evoluir e atuar efetivamente no mundo digital.
Estimular a boa escrita: a chave do sucesso na era digital
Se Tom Chatfield pudesse dar um único conselho, ele seria: escreva bem. Segundo ele, aprimorar as habilidades de escrita é uma boa maneira de obter sucesso em um mundo digital, porque boa escrita e bom pensamento estão intimamente relacionados.
Escrever nos ajuda a esclarecer nossos pensamentos e nos permite refletir sobre a melhor maneira de conquistar nosso público. Entregar pensamentos curtos e concisos é uma prioridade no mundo de hoje.
No entanto, também é importante dedicar tempo para pesquisar, analisar e estruturar adequadamente as ideias. Como resultado, a mensagem será mais eficaz. Quem escreve de modo articulado e polido tem mais chances de obter o apoio dos leitores: concentrar-se neles em vez de nós mesmos faz com que você se torne mais influente.
7 principais idéias para desenvolver um pensamento crítico
Em um recente webinar, Tom Chatfield discutiu alguns dos temas do programa de pensamento crítico que desenvolveu com a CrossKnowledge. Esta parte do artigo aborda os sete insights importantes para incorporar o pensamento crítico em sua vida e nos seus negócios.
1. Distribua a sua atenção com sabedoria
Se você não pode dar atenção total ao que importa, não pode esperar trabalhar bem, pensar bem ou escapar de preconceitos e ideias de curto prazo. Da mesma forma, se sua cultura estiver permanentemente preocupada com a velocidade, em detrimento da profundidade, você nunca tirará o máximo proveito do seu pessoal ou das ferramentas à sua disposição. Em termos cognitivos, isso significa dividir as tarefas em porções:
- Programe blocos de ação focados, em vez de flutuar constantemente entre os projetos;
- Desative as notificações não-essenciais e defina horários específicos do dia para verificar mensagens ou participar de reuniões;
- Mantenha outras horas livres para o trabalho focado em um único tópico ou para atividades que se prestem à solução criativa de problemas;
- Não faça da multitarefa um fim em si mesma.
Não há problema em se permitir períodos de “atenção parcial contínua” – passando deliberadamente por diferentes estímulos – desde que você saiba por que está fazendo isso e não passe todo o seu tempo estando “semi-presente” nas coisas.
2. Repasse informações significativas e acionáveis
Enquanto as máquinas adoram big data, as pessoas precisam de direções específicas e acionáveis. O que é bom para as máquinas é o oposto do que é bom para as pessoas, em termos de tirar o máximo proveito dos recursos humanos e digitais.
Os humanos são criativos e brilhantes pensadores, mas eles precisam receber informações contextualizadas, de maneira significativa e em quantidades gerenciáveis.
3. Explique-se
Muitas vezes, as pessoas perguntam o que significa evitar o raciocínio tendencioso e identificá-lo nos outros. Não há uma resposta simples, é claro, mas você pode se tornar resistente aos piores efeitos dele, se você mostrar o seu trabalho:
- Incorpore à sua cultura o princípio de estabelecer explicitamente argumentos e evidências, em vez de confiar em afirmações sem evidências e suposições não comprovadas.
- O raciocínio defeituoso quase sempre envolve suposições ocultas falsas: coisas que você nem percebe que você (ou outra pessoa) assumiu;
- Não assuma que o que te disseram é tudo o que você precisa saber, às vezes você precisa se aprofundar nas informações;
- Explicite cada passo em uma linha de raciocínio, incluindo a lógica oculta que os conecta. Alguém está atirando no mensageiro em vez de se envolver com uma idéia? Alguém está descartando algo simplesmente porque isso não foi feito antes?
Adotar coletivamente o pensamento crítico como algo positivo é crucial para tornar indivíduos e organizações fortes diante da mudança.
4. Teste genuinamente as suas ideias
Um teste não vale nada se você não puder ser reprovado. A única maneira de escapar do viés de confirmação é colocar suas ideias e teorias em um teste significativo. Então pergunte:
- O que poderia me provar que estou errado?
- O que preciso saber se quero descobrir se uma ideia realmente faz sentido?
A essência do pensamento crítico é estar preparado para pensar duas vezes e mudar de ideia, seguindo na direção para a qual os fatos levam. As três palavras mais poderosas em qualquer negócio são: “eu não sei”. Se você não investe tempo com perguntas que ainda não pode responder, então, por definição, não está aprendendo.
5. Dê espaço para a iteração
Grande parte do falamos anteriormente está de acordo com metodologias ágeis e sua insistência na iteração baseada em evidências. As abordagens ágeis são extremamente adequadas para equipes pequenas que desenvolvem produtos de tecnologia, mas pode ser desafiador escalá-las e incorporar seus princípios fundamentais à liderança de uma organização.
Acima de tudo, eu recomendaria que empresas de todos os tamanhos adotassem os princípios da iteração, análises retrospectivas e adaptações baseadas em evidências.
6. Priorize por importância e urgência
Uma das coisas mais úteis do pensamento crítico é uma priorização mais clara de sua carga de trabalho. O que é importante? E o que é genuinamente urgente?
- Um trabalho importante merece uma alta qualidade de consideração, atenção concentrada e não deve ser feito muito rápido – porque o que importa é acertar no longo prazo;
- Tarefas genuinamente urgentes precisam ser eliminadas o mais rápido possível – e somente quando você fizer isso será capaz de criar o tipo de tempo e atenção exigidos por tarefas importantes;
- Quanto às coisas que não são urgentes ou importantes – geralmente, elas não precisam ser feitas nesse momento.
Faça uma pausa, pense duas vezes, revise o que está à sua frente. Não aceite ser uma pessoa “ocupada por definição”, que tem sua caixa de entrada transformada em uma lista de tarefas escrita por outras pessoas.
7. Desafie o status quo
No final, a maioria dos benefícios de colocar o pensamento crítico no centro de sua cultura envolve desafiar as suposições e o status quo. Em vez de se encontrar lutando para acompanhar tarefas sem fim, informações avassaladoras e afirmações potencialmente contraditórias, uma organização que cultiva o pensamento crítico é aquela em que as pessoas questionam ativamente:
- O que mais importa;
- Por que isso importa;
- Quais caminhos as melhores evidências apoiam.
Em nossa era digital, os sistemas e as máquinas podem fornecer respostas infinitas para quase qualquer pergunta. No entanto, é o trabalho das pessoas formular, antes de mais nada, perguntas que valem a pena ser respondidas – e essa é uma área em que o envolvimento crítico só se torna mais e mais importante.