Um dos maiores desafios dos profissionais de T&D é o desenvolvimento de um bom ecossistema de aprendizagem. Os ambientes formais e tradicionais de aprendizagem sempre colocaram o professor ou especialista em um palco, tratando os alunos, de forma geral, como esponjas que precisavam absorver seu conhecimento. Não é de surpreender, portanto, que o e-learning costume reproduzir essa tendência, despejando conteúdo sobre os estudantes, que assistem aos módulos e depois fazem testes para medir o quanto guardaram do conhecimento.
Entretanto, esse tipo de filosofia de aprendizagem, “de cima para baixo”, pode desmotivar o aluno. Mas o que talvez seja ainda mais importante é que os ambientes de aprendizagem tradicionalmente verticalizados tendem a esquecer a especificidade e a importância do contexto na aprendizagem, e podem ter pouca relevância para as necessidades específicas de cada pessoa.
O que é ecossistema de aprendizagem?
O ecossistema de aprendizagem atinge todo os participantes envolvidos no processo de aprendizagem. Ele pode ser aplicado individualmente ou coletivamente. O que o diferencia do processo habitual é que nele, professores e os alunos ensinam e aprendem alternadamente.
Os conteúdos a serem ensinados são discutidos e definidos por gestores, professores e alunos, e devem ser organizados em formato de atividades que unam as necessidades de interesse do aluno. Para isso, as atividades podem acontecer em todos os lugares. Seja em sala de aula, por meio do e-learning, por meio de atividades práticas ou sociais.
Como desenvolver um bom ecossistema de aprendizagem?
A resposta construtivista para esse problema baseia-se precisamente no contexto e na ênfase centrada no aluno a fim de criar experiências de aprendizagem nas quais os estudantes formem ou construam seu aprendizado e sua compreensão de acordo com as experiências que tiveram nas mais diversas situações (Schunk, 2000).
Construção e aquisição de conhecimento
Para Duffy e Cunningham, a aprendizagem é vista mais como um processo ativo de construção do que de aquisição de conhecimento. Quando observado a partir da perspectiva construtivista, o papel do vídeo evolui de um “paradigma de apresentação”, cuja meta é principalmente transmitir conhecimentos, a uma ferramenta que abre um leque novo e amplo de estratégias para envolver o aluno na construção de seu próprio conhecimento (Burden; Atkinson, 2011).
Dessa forma, a ênfase deixa de estar no instrutor e no conteúdo, passando a estar no aprendiz (Gamoram; Secada; Marrett, 1998). Para gerar essas experiências construtivistas, os instrutores precisam se adaptar ao papel de facilitadores, e não de professores (Bauersfeld, 1995), com uma crescente importância do acompanhamento ao longo do processo de aprendizagem (Archee; Duin, 1995; Brown et al., 1989).
Promoção de um ecossistema de aprendizagem desafiador
O ambiente educacional deve ser planejado de forma a oferecer apoio e desafiar a inteligência do estudante (Di Vesta, 1987). O “professor” se torna um facilitador que está em diálogo contínuo com os alunos (Rhodes; Bellamy, 1999) e que deve também adaptar a experiência de aprendizagem durante o processo, tomando a iniciativa de direcionar essa experiência para o ponto em que os alunos desejam a fim de criar valor.
Fomento da capacidade de aprender com os outros
Entretanto, a aprendizagem não acontece apenas a partir de um especialista ou mentor: a capacidade de aprender com os outros também é uma força essencial no construtivismo. O mundo é complexo, e é crucial poder levar em consideração vários pontos de vista para conquistar conhecimento e competências.
Dessa forma, estudantes com diferentes competências e experiências devem colaborar em tarefas e discussões para chegarem a uma compreensão compartilhada da verdade em um campo específico (Duffy; Jonassen, 1992).
Importância do ecossistema de aprendizagem cooperativa
Além disso, as organizações contemporâneas muitas vezes lutam para manter o conhecimento quando os profissionais vão embora ou se aposentam, já que os programas de Treinamento & Desenvolvimento costumam ser conduzidos como iniciativas verticais, de cima para baixo.
O construtivismo social fornece uma alternativa muito desejável que permite que os aprendizes compartilhem conhecimento com os outros e tornem, eles próprios, professores. Os alunos devem se apropriar do processo de problemas e soluções, já que a meta essencial é dar apoio a eles para que se tornem pensadores efetivos.
Consegue-se isso quando são adotados no processo múltiplos papéis, como o de consultor e coach. Nessas situações, a aprendizagem cooperativa permite que as pessoas de certo grupo alternem papéis como professores e como alunos (Krych et al., 2005).
O uso do Ensino por Pares Recíprocos (RPT, na sigla em inglês) tem se mostrado eficaz para o desenvolvimento do trabalho em equipe, da liderança e de competências de comunicação, além de melhorar a compreensão dos alunos sobre o conteúdo do curso.
Uso de tecnologia no ecossistema de aprendizagem
Tecnologia, de acordo com Jonasse, Peck e Wilson (1999), refere-se aos projetos e ambientes que envolvem os alunos. O foco do construtivismo e da tecnologia reside, portanto, na criação de ambientes de aprendizagem. Da mesma forma, Hannfin e Hill (2002) ilustram esses ambientes de aprendizagem como contextos nos quais são fornecidas as ferramentas de construção do conhecimento e os meios para criar e manipular os dispositivos propícios para a compreensão, e não nos quais os conceitos são explicitamente ensinados.
Ou seja, um local em que os alunos trabalham juntos e ajudam uns aos outros na medida em que utilizam diversas ferramentas e recursos em sua busca por metas de aprendizagem e atividades de resolução de problemas.
O conhecimento, portanto, não deve ser dividido em diferentes temas ou compartimentos, e sim ser descoberto como um todo integrado (McMahon, 1997; Di Vesta, 1987). É importante que os instrutores percebam que, embora possam receber um currículo definido, este inevitavelmente será moldado por eles de uma forma pessoal que reflita seus próprios sistemas de crenças, pensamentos e sentimentos, tanto sobre o conteúdo de ensino quanto sobre os alunos.
Para a formação de um ecossistema de aprendizagem conciso é importante que haja colaboração e o uso de ferramentas que produzam o envolvimento e dedicação dos indivíduos para aprender e ensinar continuamente.